Naquela noite soprava o vento seco do deserto, o Santa Ana, quente e seco, que desce pelos desfiladeiros e despenteia as pessoas, irritando-lhes a pele do rosto e dilacerando-lhe os nervos.
Assim inicia O Cheiro do Medo, novela de Raymond Chandler, e gosto de que pensar que por aqui, distante do Mojave, também sopra o Santa Ana. Lembro-me de uma noite – eu tinha quinze ou dezesseis anos, era sexta de carnaval – na qual andei os poucos quarteirões que separavam a minha casa da quadra de futebol do Senhor José. Sentia-me ridículo por jogar bola numa noite que seria festejada pela maioria dos rapazes da minha idade. A partida estava marcada para as nove horas e no trajeto não avistei nem sequer uma pessoa. A luz que descia dos postes (uma claridade branca e fina) não penetrava nas sombras e nas copas das árvores. Das paredes das casas e do asfalto irradiava-se um hálito quente, nervoso – como se um único sopro devolvesse à noite o calor e o cheiro de sol que as pedras tinham armazenado durante o dia.
Assim inicia O Cheiro do Medo, novela de Raymond Chandler, e gosto de que pensar que por aqui, distante do Mojave, também sopra o Santa Ana. Lembro-me de uma noite – eu tinha quinze ou dezesseis anos, era sexta de carnaval – na qual andei os poucos quarteirões que separavam a minha casa da quadra de futebol do Senhor José. Sentia-me ridículo por jogar bola numa noite que seria festejada pela maioria dos rapazes da minha idade. A partida estava marcada para as nove horas e no trajeto não avistei nem sequer uma pessoa. A luz que descia dos postes (uma claridade branca e fina) não penetrava nas sombras e nas copas das árvores. Das paredes das casas e do asfalto irradiava-se um hálito quente, nervoso – como se um único sopro devolvesse à noite o calor e o cheiro de sol que as pedras tinham armazenado durante o dia.
5 comentários:
Caro Mississipe,
Suas temáticas e seu estilo é que o que me agradam. é como eu gostaria de escrever, mas não consigo. Me lembra muito outro craque, o Droggo. Droggo, se for você, bem-vindo de volta. Se não for, Mississipe, de qualquer forma, já te linkei no Espalitando pq com certeza voltarei aqui.
grande abraço
Mississipi, tinha saudades de ler a sua prosa, do poder evocativo das suas descrições. Sem tempo de vir aos blogues amigos, um pouco à toa. Desculpe o silêncio.
Beijo
pois é, soledade, sei muito bem o que é falta de tempo - nesse mês estou conseguindo respirar um pouco, mas é realmente um saco não ter tempo pra nada. obrigado pela visita.
Velhão, bom te ler por aqui então. pq sou fã do seu texto. pronto. vá com calma mesmo. mas continue escrevendo porque vc escreve pra caramba.
grande abraço
Você vai conseguir gerir o tempo e tocar o que almeja :)
Beijo grande
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